domingo, 9 de agosto de 2015

GANESHA E KARTIKEYA (CADA UM VENCE A SEU MODO)

Shiva, Parvati, Ganesha e Kartikeya (Shree Shankar)



Nesta semana que passou fui convidada a dar uma aula especial para o Dia dos Pais. Então lembrei da história de uma competição entre os filhos de Shiva e Parvati, para pensarmos um pouco sobre as diferenças, as singularidades de cada um, e sobre a importância que o apoio e o encorajamento dos pais tem para o pleno desenvolvimento do que cada um é.






(As imagens ilustrativas que seguem são da ACK - Amar Chitra Katra Animated Series)  

Shiva e Parvati tinham dois filhos: Ganesha e Kartikeya. 

Ganesha tinha uma cabeça de elefante. Entre outras coisas, suas orelhas grandes e sua boca pequena mostravam que a sabedoria está em escutar mais do que em falar. Tinha também uma barriga grande. Gostava de comer mas, mais do que tudo, essa barriga mostrava a capacidade de digerir, não só seus doces favoritos, mas tudo o que lhe acontecia. 
Já Kartikeya era talhado para ser um guerreiro. Atlético e cheio de habilidades físicas.

Como Kartikeya achava que as habilidades que tinha eram melhores do que as habilidades que o irmão tinha, vivia atormentando Ganesha. 


Mas Shiva - claro! - sabia que cada um tinha seu valor.


Passou então por ali o sábio Narada, e ele estava sintonizado com a preocupação de Shiva, que via os irmãos sempre em atrito. 
E Narada disse que tinha um desafio a propor a ambos: quem desse a volta ao mundo e voltasse primeiro, ganharia a manga maravilhosa que ele tinha.

(É interessante lembrar aqui que, às vezes, é dito que o que o sábio Narada ofereceu foi o fruto do conhecimento. De toda forma, vale lembrar também que o sábio Yogananda disse, em sua "Autobiografia de um Yogue", que o indiano não consegue conceber o paraíso sem mangas...)

E Ganesha, claro, desejava tocar e comer a linda fruta, enquanto Kartikeya pensava, primeiro, em ganhar o prêmio e em ser o vencedor. 

O fato é que Kartikeya tem como veículo um pavão. E já saiu voando e contando vantagem.
E Ganesha, que tem como veículo um rato, permaneceu tranquilo em seu lugar.
Kartikeya passava por todos os caminhos, e enfrentava o que aparecia, sempre com seu espírito bastante competitivo.
E Ganesha.........

Bem, o sábio Narada começou a ficar perturbado, e perguntou a Ganesha se ele tinha entendido a competição, pois ele, Shiva e Parvati já viam Kartikeya começando a retornar, no céu.

Ganesha então caminhou até Shiva e Parvati, cumprimentou-os e deu uma volta ao redor deles.  E, ao terminar, disse-lhes que eles eram o seu mundo. E que, tendo dado uma volta ao redor deles, tinha dado uma volta ao redor do mundo.


Narada, Shiva e Parvati renderam-se à percepção de Ganesha. Os pais podem realmente ser considerados, em algumas fases, o mundo da criança. Além disso, Ganesha sabia que os seus pais eram um casal divino e, portanto, representavam todo o mundo manifesto.

Mas, Kartikeya, que estava de volta, não concordou com isso. Estava muito despeitado por Narada ter dado a manga para o irmão e dizia apenas que não era justo. 
Ganesha, muito sabiamente, lembrou a ele que uma competição de corrida entre os dois - um de compleição atlética e que montava um pavão, e o outro de compleição contemplativa e que montava um rato -, tampouco poderia ser considerada justa. E queria dividir a manga com o irmão, pois ambos haviam dado a volta ao mundo e retornado, cada um a seu ponto de partida.
Kartikeya, no entanto, continuava inflexível...


Foi Shiva, o pai, quem resolveu a questão, e fez com que ele visse que ambos eram vencedores, cada um a seu modo: Ganesha, com sua percepção e sabedoria, e ele, Kartikeya, que tinha vocação para tornar-se um homem de ação, com sua velocidade e sua força. Caberia, a cada um deles, reconhecer o talento do outro e saber cooperar, quando fosse o caso.

E, para encerrar a história, quero lembrar que a visão de Ganesha, muito longe de ser uma trapaça (como Kartikeya chegou a alegar) é tão válida e verdadeira que ainda é cantada pelos poetas.
Segue trecho da música "O Amor", cantada pela Gal Costa, com letra a partir de um poema de Vladimir Maiakovski (1893-1930): 

"Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme

E o pai
Seja pelo menos
O Universo
E a mãe
Seja no mínimo
A Terra
A Terra
A Terra"

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